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Os Cristãos e os Transtornos Mentais (parte 1)

  • teleswork
  • 19 de jan. de 2024
  • 5 min de leitura

Nesta série de estudos abordaremos a problemática do que está sendo considerado o mal do século: os problemas mentais. Segundo dados da OMS, estima-se que só no Brasil, cerca de 18,6 milhões de pessoas apresentem quadros de ansiedade e os transtornos mentais são responsáveis por 1/3 do número de pessoas incapacitadas nas américas. Esses quadros se agravaram ainda mais com o surgimento da COVID19, que provocou o enclausuramento e afastamento social de grande parte da população desencadeando o que hoje pode-se considerar uma verdadeira pandemia de transtornos mentais.


Embora, costumeiramente colocamos tudo dentro da caixinha da depressão, por ser esta, ainda que de maneira genérica, a mais conhecida e divulgada entre as doenças mentais, a depressão é apenas um entre o vasto espectro de transtornos mentais que afligem os seres humanos, o Dr. Augusto Cury em seu livro Gestão da Emoção, apresenta uma lista com pelo menos 38  Transtornos, alguns deles são: timidez e insegurança, complexo de inferioridade, fobias, ansiedade, baixo limiar para frustrações, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), autoabandono, sofrimento por antecipação entre outros.  Essas doenças podem se manifestar na infância e seguir por toda a vida afetando diretamente o desenvolvimento psicossocial da pessoa, podendo inclusive levar ao suicídio.


As causas dos transtornos mentais são diversas e difíceis de identificar, elas podem ser: traumas emocionais, questões sociais, perdas, problemas familiares e até hereditariedade, entre outros tantos fatores; por isso é necessário um diagnóstico minucioso realizado por profissionais qualificados e geralmente exigem uma abordagem multidisciplinar e multiprofissional onde os vários aspectos da vida da pessoa afetada são analisados para a construção do melhor tratamento. É importante lembrar que os problemas mentais nem sempre têm cura, e a pessoa apenas aprenderá a conviver com eles.


Infelizmente os cristãos não são imunes a este problema e estamos aprendendo isso da pior maneira possível, visto que nos últimos anos o número de suicídio entre cristãos - muitos deles líderes - cresceu exponencialmente chamado a atenção para uma questão importante: o sofrimento psicológico do crente, por vezes negligenciado pela igreja ou tratado de maneira errada. Apesar de hoje em dia muitos pastores possuírem formação na área do comportamento humano, como psicologia e psicanalise, e também existir uma ampla literatura que aborda o tema, nos púlpitos e principalmente nos lares cristãos, o sofrimento psicológico geralmente é tratado sob uma perspectiva meramente espiritual que acaba sempre na ideia de que a pessoa que sofre com algum transtorno mental está “fraco na fé”. O Pastor metodista Dr. David Seamands em seu livro Cura Para os Traumas emocionais, ilustra bem essa questão, ele diz:


Muitas vezes, nós, os pregadores, damos aos ouvintes a enganosa ideia de que o novo nascimento e a plenitude do Espírito irão automaticamente resolver esses problemas emocionais. Mas isso não é verdade. A grande experiência com Cristo, embora seja importante e de valor eterno, não constitui um atalho para a cura de nossos males mentais. Não é uma cura instantânea para os nossos problemas de personalidade.
É necessário que compreendamos bem isto, primeiro para que possamos aceitar-nos bem, e permitir que o Espírito Santo opere em nós, de uma forma toda especial, a fim de curar nossas mágoas e complexos. Precisamos entender isso também, para não julgarmos os outros com muita dureza, mas termos paciência com aqueles que demonstram uma conduta contraditória e confusa. Agindo assim, evitaremos fazer críticas injustas e julgamentos errados contra nossos irmãos. Eles não são falsos, fingidos nem hipócritas. São pessoas como nós, com mágoas, cicatrizes emocionais e formação errada, e essas coisas interferem na conduta do momento.

 

A questão aqui levantada pelo Dr. Seamands é um problema que ganha ainda mais força nos dias de hoje, visto que as interpretações das correntes teológicas que predominam no cenário evangélico adotam uma perspectiva triunfalista na qual o crente em seu novo nascimento recebe uma espécie de green card espiritual que lhe dará acesso ao paraíso na Terra. A partir de então, seus problemas acabaram, seus traumas desaparecerão, seus sonhos não serão frustrados e tudo quanto intentar fazer irá prosperar basta apenas você “trabalhar duro” e, por “trabalho duro”, entende-se cumprir uma agenda de compromissos religiosos que geralmente resultam na formação de um ambiente tóxico, individualista e competitivo na igreja, criando a impressão de que aqueles que não alcançam o “sucesso” não estão sendo crentes o suficiente ou estão em pecado.


Este tipo de interpretação do evangelho ressuscita a mentalidade farisaica denunciada por Jesus: 9 E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: 10 Dois homens subiram ao templo, a orar; um, fariseu, e o outro, publicano. 11 O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. 12 Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo. 13 O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! (Lucas 18.9-13).


Além disso, tendem a ignorar o histórico traumático que desencadeou o transtorno da pessoa em sofrimento emocional, e que é a raiz de seus comportamentos. O Dr. Augusto Cury ressalta que: “quem enxerga apenas com os olhos da face não vê a dor cálida de seus filhos, seu parceiro, seus amigos ou seus colaboradores. Julga comportamentos, atua nos sintomas, porém nunca nas causas”. (CURY, 2015, p. 111) Dessa forma, tanto a igreja como o lar cristão, tendem-se a se tornarem lugares desafiadores para o crente que sofre com algum transtorno mental.


É necessário, porém, que haja uma mudança de postura e entendimento tanto da igreja como da família cristã em relação aos irmãos que apresentam comportamentos que evidenciam feridas emocionais. Ninguém está dizendo com isto que precisamos nos tornar analistas ou psicólogos, mas podemos assumir uma postura mais empática e cristã que foi justamente o que tanto Jesus ensinou a Pedro quando disse que deveríamos perdoar até 70x7, (Mateus 18.21-22), quanto Paulo estimulou a igreja em Roma quando disse: Mas nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos. (Romanos. 15.1). E ainda aos gálatas diz: Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo para que não sejais também tentado. Levai a carga uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo. (Gálatas 6.1-2).


Essas passagens reforçam uma postura de empatia e compreensão especialmente por parte dos mais experientes e espirituais. Estes devem se constituir na igreja e também no lar cristão como ponto de apoio e não de julgamento para aqueles que ainda não conseguiram vencer suas dores. Não se está aqui com isso reforçando comportamentos errados, nem tampouco “passando a mão” no pecado, pois tanto Jesus quanto Paulo ensinaram também como e quando se deve tratar alguém que age como um pecador consciente. Estamos falando de como podemos tornar a igreja e o lar cristão o lugar seguro onde aqueles que sofrem com suas dores e desenvolveram transtornos emocionais possam encontrar compreensão e apoio e, assim, em meio as suas crises, seus altos e baixos, possam prosseguir o caminho até que sejam plenamente curados pelo Espírito Santo, libertos de seus traumas emocionais, podendo desfrutar da vida abundante que Jesus prometeu.


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